quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sangue, fúria e amor.

Quem falou para aquele homem na porta que a entrada era V.I.P com certeza não o conhecia. Pois bem, voltou-se até sua caminhonete robusta, abriu a porta com suavidade incomum para um homem como ele, e sentou-se no banco do motorista. O segurança que olhava a despedida apenas e sorriu, e logo voltou a seus afazeres.

A noite estava especialmente escura, com o céu nublado, com um tom alaranjado pelas lâmpadas incandescentes usadas para iluminar as ruas, era inverno, e todos andavam bem aquecidos com roupas mais pesadas. O silêncio imperava na rua aquela altura, quando a porta da caminhonete se abriu, uma onda sonora estridente e ressoante percorreu o ar.

Desceu revigorado e marchou para a entrada do club. A fila extensa deu total atenção ao ocorrido, principalmente por que ele carregava consigo uma grande chave de rodas.

"O que foi malandrage?" Bradou o segurança inflando o peito. Sim ele era mais alto, talvez com quase dois metros de altura. Sem respostas, o rock pesado vindo da caminhonete abafava qualquer outro som, ninguém o ouviu. Sem respostas, atingiu o segurança em cheio com a chave de rodas. Os óculos voaram até os espectadores aflitos com o final da cena. O grande corpo se chocou contra a pesada porta que nem sequer sentiu o impacto.

Satisfeito, voltou à caminhonete. Limpou cuidadosamente a chave de roda, e a guardou. Não há briga que ele não compre, não há briga que ele não vença. Desligou o som, todos o observavam. A atenção não era a recompensa que ele esperava ter da plateia, sinceramente esperava um pouco de medo, um pouco de euforia, e pessoas gritando e saindo de lá.

Rosnou enquanto colocava o cambio na primeira marcha. Os espectadores esperavam algo mais. Apertou o volante, o tempo passava e cada vez mais aquelas ovelhas ficavam mais estúpidas.

Já cruzava a esquina, quando por fim a raiva tomou sua cabeça. Ele não fora criado em meio a surras e guerras, para depois de quebrar o maxilar de um babaca, não ver os transeuntes estúpidos não fugirem de medo. Decidiu dar um motivo mais forte.

Engatou a ré, acelerou. Puxou o freio de mão, e a pesada caminhonete virou-se frente para a plateia. Todos olharam assustados pelo som produzido. Acelerou. Primeiro não acreditaram, depois.. histeria, começaram todos a correr, e a gritar. Não acertou nenhuma alma viva, que pena. A caminhonete chocou-se com a parede, a perfurando e carregando os escombros para dentro do club. O som vazou, a diversão acabou. Ré, velocidade, cavalo de pau, primeira, acelerou, segunda, acelerou. A diversão começou.

Algumas horas mais tarde, estava parado olhando o mar, sentado em um dos bancos que foram colocados no pier há alguns anos. Com as ondas indo e vindo, com seus pensamentos indo e vindo. Para ele não restava nada, não existiam mais amigos, companheiros, mulheres ou familiares.

Era um noite triste afinal, pois não tinha um lar para voltar todas as manhãs e se aninhar em uma cama. Já não sentia falta, já não fazia questão, não lhe restava nada do seu passado antigo, seu escudo quebrou a muito tempo, sua espada perdida nas ondas bravias dos mares do norte, sua dignidade de guerreiro se foi. Suicídio era para fracos. Um morto não pode morrer novamente.

Afinal, porque continuava ali depois de tantos anos perdidos, jogados fora, apenas vadiando, bebendo e brigando? Levantou-se, não sentia fome hoje. Hoje o sangue não implorava para que ele o sugasse, fosse de quem fosse.

Entrou na caminhonete novamente, sua casa ficava longe, em um bairro pobre. As desilusões de uma vida sem vida foram demais para ele, antes o príncipe de um palácio, hoje residente de um hotel caindo aos pedaços. Uma cama, e nada de luz solar, já o bastavam. Quase uma hora depois, chegou, estacionou o carro logo ao lado do hotel. Caminhou com passos curtos, apreciando os últimos momentos de escuridão. Um homem saiu com uma mulher nas costas, uma mulher morta. Entrou no prédio, apartamento 403 B.

Bom dia.




Fim da Segunda Parte.

Nenhum comentário: